Produtores ainda acreditam na chuva contra quebras da soja


As maiores perdas no norte do Paraná atingem apenas plantios precoces, ocorridos em setembro

Produtores da região norte do Paraná, percorrida na terça-feira, 22, pela Equipe 2 do Rally da Safra 2019, relataram que o veranico (período prolongado de calor e seca) em parte de novembro e dezembro do ano passado deve reduzir a produção de soja da safra 2018/19 em relação ao ciclo anterior, mas não esperam quebras expressivas nas lavouras. Parcela da área plantada em outubro foi beneficiada pelo retorno das chuvas desde o começo do ano. A região planta um pouco mais tarde em relação ao oeste do Estado, e os agricultores com quem o Broadcast Agro (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) conversou ainda não haviam começado a colher.

Para o produtor Nelson Ribas, que planta 213 hectares de soja em Mandaguaçu, a expectativa é colher 45 sacas por hectare, em comparação com quase 60 sacas por hectare no ano passado. “A nossa sorte foi ter plantado um pouco mais tarde. A soja deu uma recuperada”, disse. “Não é uma safra cheia, mas ainda vai granar bem se continuar chovendo.” Segundo ele, as perdas piores na região ocorreram na soja mais precoce, plantada em setembro, mais prejudicada pela falta de chuvas e pelas altas temperaturas. Entre 25 de novembro a 19 de dezembro, não choveu na propriedade. A partir do dia 20 de dezembro, as precipitações voltaram a ocorrer e continuaram em janeiro, mas alguns talhões receberam mais umidade e outros continuaram secos. “A chuva foi muito mal distribuída. Áreas próximas têm diferença grande de volume”, afirmou.

O produtor diz que já negociou em torno de 15% do que espera colher para pagar contas. “Não estou devendo nada. O que eu compro de insumo está pago e a soja restante fica para negociar.” Ele afirma que foi possível negociar a soja por R$ 80 a R$ 80,50 a saca e só não vendeu um porcentual maior por causa do temor de prejuízos climáticos. “Queria vender tudo porque é um preço bom, mas e se eu não tenho soja para entregar?”, ponderou. Ele mostrou apenas preocupação com o reflexo do câmbio nos preços. “Não sei como vai ser a comercialização para frente, com vai ficar o dólar.”

O produtor Romeu Egoroff, que planta 448 hectares de soja em Iguaraçu, relatou que as primeiras áreas plantadas, entre 3 e 7 de outubro, que ele costuma semear na parte mais arenosa e menos fértil da propriedade, tiveram problemas no desenvolvimento. Já a soja semeada a partir de 12 de outubro está com boa aparência após a volta das chuvas em janeiro. “Não é uma produção ruim, mas não vai ser uma safra cheia”, disse. “Em dezembro teve região com 23 dias sem chuva e alta temperatura.” Se no ano passado, a colheita rendeu em torno 60 sacas por hectare, a expectativa é de um resultado um pouco abaixo disso, mas o produtor ainda não se arrisca a dizer quanto. “A entrada da safra foi ruim, mas depois pode normalizar.” As lavouras recém começaram a amarelar, e a colheita ainda deve demorar um mês.

Quanto à comercialização, Egoroff disse que preferiu não negociar nada da soja que vai ser retirada dos campos em breve. Normalmente, ele aproveita oportunidades que costumam aparecer ao longo do ano depois de armazenar parte da soja em silo de trading da região após a colheita e o embarque é feito em vagão aproveitando o terminal ferroviário de Maringá. “Tenho sempre uma safra para trás para vender. Vou plantar milho agora e vendi o milho da última safrinha. A safra de soja vai pagar a próxima.”

O produtor Rodrigo Salvadori tem 1.870 hectares de soja plantados em Luiziânia, 24 hectares a mais do que no ano passado. Se na safra anterior colheu 65 sacas por hectare de média, agora a expectativa é um resultado 10% menor, embora ele diga que o resultado ainda pode surpreender positivamente. “Nós estamos em uma situação atípica. Quem plantou cedo sofreu com a seca, e regiões com solos mais arenosos tiveram quebras grandes. Eu não posso reclamar de nada”, disse. “Teve um pouco de estiagem em dezembro. Pode ter dado algum dano, mas não é visível para a gente.”

Ele tem áreas de ciclo curto, médio e longo na propriedade, sendo que as primeiras áreas foram plantadas em 24 de setembro. “Este é o talhão mais perigoso.” Mas a grande maioria da área foi plantada no mês seguinte. “Gostamos de plantar e finalizar em outubro.” A semeadura é orientada por um investimento recente em agricultura de precisão e melhoramento do perfil da terra. “Hoje a tecnologia disponível no Brasil é muito boa, é só investir o que tem que investir. Acabou o tempo de só tirar da terra.” A previsão é começar a colher dentro de um mês.

O produtor já negociou em torno de 40% da soja que espera colher, a preços entre R$ 80 e R$ 81 a saca. Apesar de considerar o preço em que começou a negociar atrativo, ele espera uma recuperação do mercado para vender a produção remanescente, pois hoje tem armazenagem para 170 mil toneladas na propriedade e também utiliza silos-bolsa. “É possível pegar um financiamento, pagar as contas e segurar o restante do produto, mas tem de ter armazém, caso contrário não vale a pena.”

Fonte: ESTADÃO CONTEÚDO

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