O Paraná lidera o ranking de agricultores orgânicos certificados no Brasil. Os dados são do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos (CNPO), que aponta que o estado possui atualmente 4.399 agricultores certificados.
O pesquisador do IDR-Paraná, Moacir Roberto Darolt, aponta que o Paraná tem um histórico de pioneirismo na produção orgânica e na agroecologia desde os anos 1980. “O aumento mais significativo do número de produtores ocorreu nos últimos 10 anos e se deve a um conjunto de fatores, como um melhor preço de venda, com um prêmio de 30% em relação ao convencional; políticas públicas de acesso facilitado à certificação; a organização dos produtores em associações e cooperativas; e a facilidade de comercialização via programas governamentais”.
A pesquisa tem um papel essencial na consolidação da agricultura orgânica. Há anos, a Estação de Pesquisa em Agroecologia do IDR-Paraná, em Pinhais, contribui para a capacitação de agricultores familiares, desenvolvendo e testando novas tecnologias voltadas ao manejo sustentável. “O fortalecimento desse trabalho é essencial para que novas tecnologias cheguem até os produtores e contribuam para o avanço da agricultura orgânica no estado”, enfatiza o pesquisador.
O papel do Programa Paraná Mais Orgânico
Entre as políticas de assistência técnica está o Programa Paraná Mais Orgânico (PMO), que impulsiona a certificação ao oferecer assistência técnica aos produtores familiares, reduzindo os custos para quem está começando. O PMO foi responsável por cerca de 25% das certificações presentes no CNPO.
O agricultor Renato Gurski, de Araucária, é um dos atendidos pelo núcleo IDR-Paraná – CPRA, sediado em Pinhais. “Como eu sou um pequeno produtor, para mim, pagar uma certificadora, por exemplo, seria bastante caro. Então, o PMO tem sido hoje fundamental para me manter na atividade”.
Renato destaca o suporte oferecido pelos técnicos. “A equipe do programa acompanha a produção, as inspeções e ajuda na documentação. Acompanha a análise de água e de solo, além do acompanhamento geral”.
Para Bruno Eduardo Borges, técnico do PMO, é satisfatório acompanhar agricultores e ver o trabalho e a dedicação serem reconhecidos com a conquista das certificações. “A certificação abre portas para novos mercados e fortalece a confiança no que o agricultor produz. Mais do que um selo, é a confirmação de um compromisso com a saúde, o meio ambiente e o futuro da agricultura”, enfatiza.
A mudança de mentalidade dos consumidores e a comercialização
A percepção do agricultor Renato é de que a dificuldade na comercialização é um empecilho para que mais agricultores ingressem na agricultura orgânica. Atualmente, ele comercializa a produção na feira do município e participa do projeto Cestas Solidárias, uma iniciativa do IDR-Paraná que conecta agricultores orgânicos com grupos de consumidores na região metropolitana de Curitiba.
O trabalho de precificação das cestas no projeto é feito de forma coletiva, onde, junto com o agricultor, a equipe do projeto realiza uma avaliação considerando tanto os custos de produção dos agricultores quanto a acessibilidade para os consumidores. “Acompanhamos os produtores para entender seus gastos com insumos, se existentes, tempo de trabalho e logística, garantindo que os preços sejam justos e sustentáveis. Também analisamos o mercado local para equilibrar valores e manter a competitividade sem comprometer a renda dos agricultores”, explica Marcela Rebelo Ceccon, bolsista no projeto.
Marcela destaca que, com o Cestas Solidárias, vê florescer uma mudança nos consumidores. “No início, muitos veem as cestas apenas como uma alternativa de alimentação saudável, mas, com o tempo, começam a entender melhor a importância da agricultura familiar, da sazonalidade e da valorização do trabalho do agricultor. Eles passam a questionar a origem dos alimentos e a buscar um consumo mais responsável, tornando-se agentes de transformação em suas próprias comunidades”, conta.
A consumidora Emanuela Guerke manifesta seu contentamento em participar do projeto e ter acesso aos alimentos orgânicos para preparar diferentes receitas para a família. “Eu gosto muito, tanto pelo fato de poder consumir orgânico e saber que estou comendo uma coisa saudável, como por não precisar me deslocar até o local para fazer compras. Então, ajuda a otimizar o tempo.”
Políticas de compra governamentais
Políticas como o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) dão escala para a comercialização de alimentos oriundos da agricultura familiar.
Outro programa estadual que amplia a comercialização é o Compra Direta Paraná, voltado para instituições socioassistenciais. Criado em 2020, o programa prioriza alimentos orgânicos na chamada pública e teve eventos expressivos desde então, como mostra o Quadro 1.
De acordo com a chefe do Departamento de Segurança Alimentar e Nutricional (DESAN) da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, Márcia Cristina Stolarski, as aquisições públicas da agricultura familiar representam uma política de triplo impacto: econômico (fortalecendo pequenos produtores), social (garantindo alimentação digna) e ambiental (fomentando modelos sustentáveis). “A ampliação e consolidação são estratégicas para um desenvolvimento rural inclusivo e resiliente. Essas aquisições injetam recursos nas economias locais e regionais, gerando emprego e reduzindo o êxodo rural”.
Principais desafios
De acordo com Moacir Darolt, engajar os consumidores com a produção orgânica e agroecológica é um dos principais desafios para o fortalecimento do setor. Ele destaca outros, como:
- Ampliação do mercado para todas as classes sociais e para municípios do interior do estado.
- Manutenção e expansão de políticas públicas de apoio à produção orgânica, como o Programa Paraná Mais Orgânico.
- Criação de uma Política Estadual de Agroecologia, para destinar mais recursos ao setor.
- Investimento em assistência técnica e pesquisa, incluindo o desenvolvimento de sementes e mudas adaptadas à produção orgânica.
- Avanço no controle biológico de pragas e doenças e no manejo de plantas invasoras.
- Maior desenvolvimento da produção animal dentro do sistema orgânico.
“Essas frentes integram uma estratégia para oferecer suporte aos agricultores, fortalecendo-os para que se engajem na produção orgânica e ampliem tanto a produção quanto a comercialização de alimentos orgânicos para toda a sociedade”, finaliza Darolt.