A receita de um casal de Astorga
para se realizar na agricultura
Quando, há exatos 20 anos, Frederico Camargo de Anchieta e sua esposa Mariluce Teixeira de Anchieta, moradores em São Paulo, receberam o chamado de Samuel, o pai dele, para assumirem a gestão da fazenda em Astorga, na região de Maringá, não pensaram duas vezes. Com formação em técnico em administração, o marido já havia dito várias vezes à Mariluce que, caso o pai o convidasse, aceitaria de pronto. Mas ela, embora concordando, não tinha nenhuma afinidade com o mundo rural, pois dedicava-se à comercialização de tecidos em uma loja da família. “Sabe uma pessoa urbana, que tinha pavor de lagartas e besouro? Era eu”, sorri.
Caçula entre dez irmãos, Mariluce nem imaginava o quanto a vinda de sua família para o Paraná – e para ela, em especial – seria desafiadora, sendo que os dois filhos do casal, Maria Fernanda e Frederico Filho, ainda eram pequenos.
Frederico formalizou um contrato de parceria com o pai e um irmão dele, Fernando, entrou como sócio para cuidar da parte burocrática. Assim, nos primeiros anos, plantaram algodão e trigo e a vida parecia estar seguindo seu curso, conforme o esperado.
Ocorre que Frederico foi acometido de uma depressão e por cinco anos se manteve praticamente ausente da fazenda, período em que Mariluce precisou desdobrar-se para dar conta da casa, dos filhos e ainda aprender a fazer a gestão dos negócios. “Eu ia para a fazenda, dava umas orientações, mas não conseguia ficar lá por muito tempo”, conta Frederico. “Eu abracei a causa, não foi nada fácil, mas tinha que ser parceira do meu marido nessa hora, ele nunca deixava de me incentivar”, comenta Mariluce.
Para complicar, o filho deles começou a sofrer um problema cardíaco, exigindo dos pais – da mãe, principalmente – uma atenção ainda maior. “Sempre tivemos muita fé e, com confiança em Deus, fomos superando cada desafio”, afirma Mariluce, que se firmava cada vez mais como produtora rural. Em seus momentos difíceis, ela se lembrava dos conselhos da mãe, uma de suas maiores incentivadoras. A saudosa dona Selma, que gostava de falar com suas plantas, lhe dizia ser preciso colocar amor em tudo e zelar pelo nome, o maior patrimônio que alguém pode ter.
Para aprimorar-se, Mariluce cursou administração de empresas numa faculdade de Astorga e hoje, sempre em parceria com o marido, responde pela produção de soja e milho em 230 alqueires, alcançando boas médias de produtividade – entre 140-145 sacas por alqueire na soja e 220 no milho no histórico dos últimos cinco anos. O casal faz o planejamento e a administração da propriedade, distribui os serviços, efetua as aquisições de insumos e a comercialização das safras. Enquanto Frederico se mantém focado na logística e na distribuição, Mariluce acompanha as colheitas, a emissão das notas e as entregas da produção. Eles contam com dois funcionários e contratam terceiros para a prestação de serviços de colheita e transporte.
Desde 2014 os dois fazem parte do quadro de associados da Cocamar (ligados à unidade de Sabáudia), cooperativa com a qual dizem ter uma relação de confiança. “Há muita flexibilidade no atendimento da assistência técnica que é bastante eficaz”, pontua Frederico, enquanto a esposa cita outros benefícios, como o fato de a cooperativa não “empurrar” insumos e conceber um pacote fechado em tecnologias voltadas a incrementar a produtividade. Neste ano, o casal estima que a média da soja, a considerar pelo bom estado de desenvolvimento das lavouras, deverá ficar em pelo menos 160 sacas por alqueire.
Entre as orientações prestadas pela Cocamar, Mariluce menciona o investimento na reestruturação do solo e na adubação, mas o envolvimento com a cooperativa se dá, também, pela participação deles em palestras, dias de campo e na antecipação de decisões. “Fazemos a incorporação de calcário no solo”, conta Frederico, frisando que entre os planos do casal estão a melhoria do parque de máquinas e continuar investindo no solo para eliminar manchas que revelam problemas, além de intensificar a agricultura de precisão.
“Somos realizados com o que fazemos”, ressalta Mariluce, que é também uma referência entre as mulheres que têm se destacado no setor e participa de grupos de mensagens que reúnem centenas de produtoras do Paraná e do país. Interessadas em evoluírem na atividade, elas organizam viagens técnicas e contatos com especialistas, sempre na busca por novos conhecimentos.
Associativista, Mariluce ainda encontra tempo para ser uma das 16 integrantes da Comissão Estadual da Mulher da Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), é coordenadora de núcleo e participante do Comitê Mulher da cooperativa Sicredi Dexis e, a partir de fevereiro, ocupará uma vaga entre os seis componentes do Conselho Fiscal da Cocamar, para um mandato de um ano.
O gerente da unidade de Sabáudia, Roberto Zucolli, acompanhou o Rally na visita ao casal. Ele citou que a cooperativa mantém um campo de sementes, para validação de 64 variedades de soja, na propriedade dos Anchieta, onde em breve haverá um dia de campo.
Em seu oitavo ano, o Rally Cocamar de Produtividade acompanha o ciclo da soja para conhecer históricas inspiradoras como a de Frederico e Mariluce. Participam o Rally: Sicredi Dexis, Basf, Fertilizantes Viridian e Nissan Bonsai Motors (principais), Cocamar Máquinas/John Deere, Texaco Lubrificantes, Estratégia Ambiental e Irrigação Cocamar, com o apoio do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), Aprosoja/PR e cooperativa de profissionais Unicampo.
Por: Rogerio Recco