A cooperativa Cocamar, a Embrapa Soja e a Universidade Estadual de Londrina (UEL) deram início na safra 2018/19 a um projeto que pretende avaliar, nas próximas três safras, a qualidade física, química e biológica do solo em propriedades rurais de diferentes regiões do Paraná. O objetivo é criar um banco de dados para estabelecer parâmetros e auxiliar na elaboração de projetos conservacionistas nas propriedades rurais do Estado. “Queremos gerar dados que comprovem para o produtor a importância de um manejo adequado e como isto influencia na produtividade da lavoura”, explica o pesquisador Henrique Debiasi, da Embrapa Soja.
Depois do levantamento dos dados, o projeto prevê o compartilhamento dos resultados com os produtores para reforçar a relevância do manejo adequado do solo na sustentabilidade da propriedade. O gerente técnico da cooperativa Cocamar, Renato Watanabe, destaca que tanto os produtores campeões de produtividade, assistidos pela cooperativa, quanto os produtores que se sobressaem por suas médias elevadas, apresentam um ponto em comum: o manejo adequado do solo. “Este trabalho, realizado em parceria com a Embrapa, quer mostrar como o manejo influencia a capacidade de produção. Estamos visitando diversos ambientes de produção e analisando diferentes formas de manejo, para saber como o solo consegue absorver mais água e ter melhor estrutura física”, diz Watanabe.
Para a Embrapa, conduzir as pesquisas em parceria com a iniciativa privada é importante, porque aproxima a Empresa da assistência técnica e dos produtores, que são os usuários da tecnologia. “Quando eles fazem parte do processo, a legitimidade dos resultados é muito maior”, avalia. “É muito diferente o produtor dizer que o manejo adequado traz retorno, a partir da experiência pessoal, e com o respaldo de dados científicos”, conta Debiasi. “Isso é relevante também para outros produtores que ainda não estão adotando as mesmas práticas conservacionistas, porque conseguem visualizar que não é algo inacessível, pelo contrário, apesar do esforço, traz muitas vantagens”.
Definição da amostragem – As 24 áreas amostradas foram escolhidas de acordo com o tipo de solo (arenoso e argiloso) e as diferentes altitudes. “A altitude é importante porque influencia a temperatura e a chuva, fatores que afetam o acúmulo de matéria orgânica no solo. Áreas com temperatura mais alta têm maior dificuldade de acumular matéria orgânica porque a decomposição é mais rápida”, explica Julio Franchini, pesquisador da Embrapa Soja.
Uma das regiões que compõe a amostra é a do Arenito Caiuá, que tem menos de 500 metros de altitude e possui solos arenosos (Iporã e Jussara). A outra região é a de basalto com solos argilosos. Neste caso, há lavouras a menos de 500 metros de altitude, que ficam no norte do Estado (Maringá e Londrina) e lavouras com mais de 500 metros (São Sebastião da Amoreira, por exemplo). Também compõem a amostra áreas de Integração Lavoura Pecuária e outras formas de diversificação de culturas no sistema plantio direto.
Indicadores de qualidade – Nos pontos de amostragem, Franchini explica que foram determinados quatro indicadores: a taxa de infiltração de água no solo, o índice de qualidade estrutural do solo (estimado pela metodologia Diagnóstico Rápido da Estrutura do Solo – DRES <www.embrapa.br/dres>), a porcentagem e a massa de cobertura do solo, a fertilidade química (teor de nutrientes e acidez) e o Índice de Qualidade Participativo do Plantio Direto (IQP2), metodologia desenvolvida pela Federação Brasileira de Plantio Direto (Febrapdp) e outros parceiros. O projeto pretende estabelecer relações entre estes atributos. “O IQP2, por exemplo, é um valor que reflete a qualidade do sistema plantio direto adotado pelo produtor. Quanto mais próximo de 10, melhor é a qualidade do sistema”, define Franchini “Esta metodologia dimensiona o nível de diversificação de culturas da propriedade, a frequência de intervenção mecânica no solo, se existem terraços e suas características, se há erosão, entre outros indicadores”, revela Franchini.
O pesquisador exemplifica ainda que conhecer a taxa de infiltração de água é um indicador de qualidade estrutural do solo porque a água que não infiltra não fica disponível para as plantas. “Uma alta taxa de infiltração é essencial para aumentar a disponibilidade de água às plantas, evitando seu escoamento e erosão”, reforça. “Além disso, a infiltração de água é o parâmetro básico para a construção dos terraços nas propriedades. E hoje carecemos de dados precisos em diferentes situações para o planejamento próximo da realidade”, diz.
Iniciado na safra 2018/19, o trabalho será conduzido ao longo das próximas três safras. O projeto foi inserido no calendário do Rally Cocamar de Produtividade e teve como trajeto os seguintes municípios paranaenses: Iporã, Mandaguaçu, Jussara, Florai, Maringá e São Jorge do Ivaí, Primeiro de Maio, Sertanópolis, São Sebastião da Amoreira e Santa Cecília do Pavão. Ao final da safra de soja, os resultados serão repassados aos produtores por meio de dias de campo e outros eventos técnicos.
Lebna Landgraf (MTB 2903- PR)
Embrapa Soja