O relatório mensal do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, indica que a safra 2020/2021 no Paraná deve gerar um volume de 38,6 milhões de toneladas de grãos em uma área de 10,4 milhões de hectares. Esse índice de produção representa 6% menos do que o produzido na safra 2019/2020, em uma área 3% maior.
De acordo com os dados deste mês, adversidades climáticas como a seca e, mais recentemente, as geadas, impactaram no desenvolvimento das principais culturas do Estado, como o milho e o feijão. Essas dificuldades também resultaram em um alto custo de produção para os agricultores. Além da seca, a redução das expectativas de produção decorre do atraso na semeadura da safra de soja e na semeadura da safrinha de milho. “Portanto, ganha relevância a recente iniciativa do Governo do Estado de estimular o uso de irrigação nas propriedades rurais, tanto quanto possível, para mitigar riscos, aumentar a produtividade e até cooperar, a médio prazo, para a redução do custo do seguro rural”, diz o secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara.
A segunda safra de feijão, a exemplo do ocorrido no ano passado, foi prejudicada pela falta de chuvas em praticamente todo o ciclo vegetativo. O Deral estima uma redução de 38% na produção, comparativamente às 502 mil toneladas previstas no início da safra. Agora, estima-se um volume de 310 mil toneladas.
Quanto à segunda safra de milho, é esperada a produção de aproximadamente 10,3 milhões de toneladas, redução próxima de 4,4 milhões, na comparação com a estimativa inicial, perda de 30%. A quebra na safra de milho deve-se principalmente à estiagem que atinge o Estado, com chuvas irregulares e ausência de chuvas nos períodos críticos para o desenvolvimento das plantas.
IMPACTO – Segundo o chefe do Deral, Salatiel Turra, os índices estimados atualmente para a cultura do milho têm impacto bastante significativo para o Estado, uma vez que refletem nas cadeias da carne e do leite, onde o grão é fundamental na produção de alimento para os animais. “Por outro lado, os preços praticados nesta cultura estão recompensadores para os produtores”, explica.
FEIJÃO SEGUNDA SAFRA – A segunda safra de feijão iniciou com estimativa de produção de 502 mil toneladas, 83% acima do volume do ano passado. No entanto, devido à seca prolongada, a estimativa teve uma redução de 192 mil toneladas. “Esse cenário é semelhante ao do ano passado, pois o feijão é uma cultura suscetível a riscos. Além da seca, as baixas temperaturas registradas em maio e as geadas desta semana prejudicaram a safra”, explica o economista do Deral, Methodio Groxko. O levantamento realizado pelos técnicos do Deral indica a produção de 310 mil toneladas.
A área, de 254,3 mil hectares, apresenta aumento de 13% na estimativa comparativamente à safra 2019/2020. Até o momento, a colheita atingiu 44%, e deve ser concluída em junho. Segundo o economista, o produto colhido até o momento não apresenta boa qualidade, principalmente pela má formação dos grãos. Atualmente, 36% das lavouras apresentam condições consideradas ruins, 40% médias e 24% boas. Quanto às fases, 28% das lavouras estão em frutificação e 72% em maturação.
De acordo com Groxko, o Paraná é o principal fornecedor de feijão nesta época do ano e, apesar da forte redução da produção, o mercado está com poucos negócios. Os preços tiveram queda nas últimas semanas, mesmo com a oferta menor do produto, principalmente pela dificuldade que os atacadistas encontram para repassar qualquer aumento ao mercado varejista. “Hoje, devido aos preços nas gôndolas, o consumidor final começou a mudar seus hábitos, e busca produtos como frangos e massas para substituir o feijão”, explica. A redução do valor do auxílio emergencial pago pelo governo federal e a queda na compra de cestas básicas também interferiram neste processo.
Na comparação mensal, os preços pagos compensam os custos de produção. No mês passado, o feijão-preto foi comercializado por R$ 255,71 a saca de 60 kg. Agora, está R$ 266,58. Em abril de 2021, a saca de 60 kg de feijão-cores era comercializada por R$ 264,14, em média. Em maio, o valor foi de aproximadamente R$ 267,37. A tendência para as próximas semanas é de estabilidade nos valores e menor influência do clima nas lavouras.
MILHO SEGUNDA SAFRA – No início da safra, a expectativa era de que o Paraná produzisse um volume de 14,7 milhões de toneladas. Mas as perdas no campo foram significativas. Até o momento, aproximadamente 30% da safra foi perdida – cerca de 4,4 milhões de toneladas – , o que gera preocupação, inclusive, quanto ao abastecimento.
Agora, a produção esperada é de cerca de 10,3 milhões de toneladas. Esse volume é 13% menor do que o colhido na safra passada. A área está estimada em 2,5 milhões de hectares, 9% superior à do ciclo anterior. As principais regiões produtoras do Estado, como o Norte e o Oeste, já apontaram perdas altas, em torno de1,5 milhão em cada uma.
As razões para a redução da estimativa da safra de milho são principalmente a estiagem em fases decisivas para o desenvolvimento das plantas. Em decorrência do clima, doenças e pragas também contribuíram para a expectativa de uma menor produção. “Considerando a evolução da cultura e a situação climática dos últimos meses, provavelmente será registrada uma nova redução da produção no próximo mês”, diz o técnico do Deral, Edmar Gervásio.
No entanto, os produtores estão bem remunerados. Os preços recebidos pela saca de 60 kg de milho fecharam o mês de maio em R$ 91,38, contra R$ 90,13 na média de abril. O atual valor representa um aumento de R$ 127% comparativamente ao mês de maio de 2020, quando o produtor recebia, em média, R$ 40,21 pelo produto.
Devido à quebra, o Paraná tende a importar um volume maior de milho do que no ano passado, mas já é, tradicionalmente, o maior importador do produto no país. Ao longo de 2020, o Paraná comprou 730 mil toneladas. Apenas de janeiro a maio de 2021, o volume de importação foi de 530 mil toneladas.
TRIGO – O plantio do trigo avançou para 58% nesta semana, percentual dentro da média para o mesmo período nos cinco últimos anos. A projeção de área foi revista para 1,17 milhão de hectares, ante 1,16 milhão registrado no levantamento do mês de abril. Caso essa estimativa se confirme, será um aumento de 4% sobre a safra anterior, com potencial para gerar uma produção de 3,8 milhões de toneladas, 22% superior. Neste período, as geadas não prejudicam a cultura do trigo.
De acordo com o engenheiro agrônomo do Deral, Carlos Hugo Godinho, as chuvas das últimas semanas trouxeram umidade suficiente para regiões que iniciaram o plantio, assim como para as regiões que estavam com a janela de plantio ideal se encerrando.
No momento, 92% das lavouras estão em boas condições e 8% em condições médias, mas existem diferenças entre algumas regiões. No Sudoeste, principal responsável pelo rápido avanço do plantio, todas as áreas têm boas condições. Porém, no Norte e no Oeste, parte das sementes ficou até 40 dias sem receber chuvas, o que poderá ter reflexos no desenvolvimento da cultura.
“Existe a possibilidade de algumas áreas de trigo serem semeadas sobre áreas perdidas de milho, mas ainda não foi identificado algum movimento relevante nesse sentido”, diz o engenheiro agrônomo. Em maio, a saca de 60 kg de trigo foi comercializada, em média, por R$ 85,85. Em abril deste ano, os produtores receberam R$ 87,27. Os preços praticados atualmente são cerca de 43% superiores à média de maio de 2020, de R$ 60,13.
SOJA – O volume de soja esperado para a atual safra é de 19,8 milhões de toneladas, 5% menor do que na safra 2019/2020, situação decorrente da seca e do atraso no plantio. A quebra de 800 mil toneladas é compensada pelos preços, segundo o economista do Deral Marcelo Garrido. Em maio, a saca de 60 kg de soja foi comercializada, em média, por R$ 159,74, valor bastante próximo do praticado em abril. Na comparação com maio do ano passado, por outro lado, o crescimento é de 70%.
A área está estimada em 5,6 milhões de hectares, 2% maior comparativamente ao ciclo anterior. Aproximadamente 72% do produto está comercializado, índice menor do que o registrado no mesmo período do ano passado, de 83%, mas ainda assim considerado elevado para o momento.
SOJA SEGUNDA SAFRA – A projeção relativa à segunda safra de soja, destinada principalmente à produção de sementes, também foi afetada pela seca. Se, no começo do ciclo, esperava-se um volume de 110 mil toneladas, agora a expectativa está próxima a 95,8 mil toneladas. A área está estimada em 38,8 mil hectares, 2% menor.
CEVADA – Estima-se uma área de 70 mil hectares de cevada no Paraná para esta safra, 9% maior do que a área do ciclo 2019/2020, segundo o engenheiro agrônomo do Deral, Rogério Nogueira. Nas principais regiões produtoras, como Guarapuava e Ponta Grossa, o plantio inicia em junho. A produção de cevada no Estado está estimada em 318,7 mil toneladas, 17% maior do que na safra 2019.
A área do núcleo regional de Guarapuava, estimada em 39,4 mil hectares, representa 57% do total estadual. Nessa região, estima-se um crescimento de 4% na área plantada. No núcleo regional de Ponta Grossa, responsável por 30% da área, a estimativa subiu 10%, totalizando 20 mil hectares.
MANDIOCA – Há alguns meses, a colheita da mandioca no Paraná sofre com o clima seco, o que gerou perda de raízes no solo e, consequentemente, impacto direto nos custos de produção, segundo o economista do Deral, Methodio Groxko.
Em maio, a média de preço pago pela tonelada do produto foi de R$ 469,06. No mês passado, o valor era de R$ 420,08. Tanto a área quanto a produção têm estimativas 4% menores do que na safra 2019/2020. O Deral prevê um volume de 3,34 milhões de toneladas de mandioca em 142,6 mil hectares.
CAFÉ – A seca também impactou negativamente a cultura. Em abril, o resultado do clima seco foi a aceleração do ciclo de maturação. Neste período, os produtores estão em alerta por conta da ocorrência de geadas e com a qualidade da safra, de acordo com o economista do Deral, Paulo Franzini.
Atualmente, cerca de 3% da área de 33,3 mil hectares de café está colhida, mas, a partir do mês de junho, a colheita deve se intensificar. Espera-se que sejam produzidas 52,4 mil toneladas, volume 9% abaixo da safra passada.
Com relação aos preços pagos ao produtor, a média do mês de maio ficou em R$ 719,61 a saca de 60 kg, 8% superior à média de abril (R$ 666,43), e 40% superior à média de maio de 2020. “Em um cenário com preços valorizados, o produtor está se esforçando para não ter perdas nas lavouras”, diz Franzini.
-
Colheita do feijão – foto: Gilson Abreu/AEN