Como startups do agro têm driblado a falta de internet


Segundo o 2º Censo AgTech, cerca de 17% alega que dificuldades de conexão impedem o crescimento

Reclamação comum no campo, os problemas de conectividade têm sido contornados pelas startups do agronegócio para que seus produtos consigam entrar no mercado. É o que aponta o 2º Censo AgTech Startups Brasil. No levantamento, que recebeu respostas de 184 empresas, 54% declararam que suas soluções dependem de internet. Dessa porcentagem, 32% afirmaram que esse problema impede o crescimento. “Não é um índice tão grande. A conectividade poderia ser melhor? Sim. E daí talvez as startups teriam mais facilidades, mas elas têm criado mecanismos, como rede própria ou coleta dos dados offline e depois download na fazenda, para superar isso”, explica José Tomé, CEO da AgTech Garage, uma das realizadoras do censo ao lado da Esalq/USP.

Para ele, esse trabalho para que a tecnologia consiga burlar os problemas de conectividade é também uma vantagem das startups brasileiras em relação às estrangeiras que vêm para o Brasil. “As de fora estão acostumadas com uma conectividade melhor e precisam se adaptar para funcionar aqui”. De acordo com Tomé, empresas latino-americanas e de Israel têm olhado para o Brasil pelo tamanho do mercado. No outro sentido, algumas startups brasileiras também têm se internacionalizado. No censo, 14% disseram ter clientes fora do Brasil.

Para Tomé, o levantamento ajuda todos os envolvidos a entenderem melhor o ecossistema e serve de base para que novas iniciativas de suporte sejam criadas.

Receptividade e segmentação
O censo mostra também que os produtores têm aceitado bem as novas tecnologias. Apenas 13% das startups indicaram que a receptividade é muito baixa ou média. A maior parte apontou que ela é intermediária (42%).

Em relação à origem dessas startups, 46% estão em São Paulo, 16% em Minas Gerais e 12% no Paraná. “São regiões com maior densidade de cérebros, universidades, tecnologia e cultura de empreender. Mas isso indica apenas onde elas nasceram, elas podem atuar em outras partes do país também”.

Entre os principais mercados das startups do agro estão soja (46%), milho (41%), cana-de-açúcar (35%), pecuária de corte (30%) e leite (20%). Na pecuária, houve crescimento do 1º censo, em 2016, para cá. “Tenho visto pecuaristas aceitando bem a tecnologia e inovações surgindo, com algumas diferenças entre leite e corte. As voltadas para a primeira normalmente têm maior valor agregado e para a segunda o foco maior é em escala”. As áreas de atuação são as mais diversas e vão desde suporte à decisão (a primeira do ranking) à biotecnologia.

Mercado
Tomé vê com otimismo o mercado para startups do agro e acredita que o ecossistema continuará crescendo em número e inovação, mesmo com a economia do país ainda em recuperação. “A tendência é ter um ambiente cada vez mais favorável de co-criação, de entendimento por parte dos parceiros, do produtor, do investidor. Está na infância, ainda tem muita coisa para acontecer”. De acordo com o censo, 36% das startups foram fundadas em 2017 e 23% em 2016.

Entre os desafios, ele acredita que o principal continua a ser a distribuição. “Mas isso tem sido amenizado com parcerias das startups com grandes empresas, o que permite ganhar escala e alcançar os mercados”. Conseguir investimentos também não é tarefa fácil, mas tem sido um desafio menor, já que o número de investidores tem crescido. “Além de empresas, grupos de anjos [pessoas físicas que investem capital nas startups] e fundos, acho que vai ficar cada vez mais comum o produtor fazer investimentos, como um anjo e validador de tecnologia”.

Você pode baixar o censo completo neste link. Uma nova versão deve ser realizada em dois anos.

Fonte: Portal DBO.

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